BRASIL
DESIGUAL
Por Brenno Souza, Melissa Lima e Natália Blanco
O Grito
O vídeo que você acabou de ver foi a fala de um morador de rua, na praça da Sé, no dia 7 de setembro de 2015. No Dia da Independência movimentos sociais se unem, desde 1995, no chamado Grito dos Excluídos, movimento que tem como objetivo dar voz e visibilidade aos excluídos da sociedade, denunciar os mecanismos sociais de exclusão e propor caminhos alternativos para uma sociedade mais justa e menos desigual.
Neste ano, o Grito teve a sua 19ª edição em São Paulo com o tema: “que país é esse que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”, discutindo o papel que a mídia desempenha em situações de violência em periferias ou até como noticia fatos envolvendo marginalizados da sociedade, como explica um dos organizadores do evento e coordenador da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo, Paulo Cesar Pedrini.
“Eu acho que a mídia tem uma responsabilidade muito grande. As vezes ela pode dar uma pequena cobertura para um ato que denuncia a injustiça social, mas dá uma cobertura imensa para um ato que pede a volta do regime militar, por exemplo. É uma contradição imensa”, diz o organizador, fazendo menção aos grupos que pediam intervenção militar nas manifestações pró-impeachment.
Jovens negros são as maiores vítimas da violência por arma de fogo no Brasil
De acordo com Pedrini, outro tema prioritário foi a questão da violência contra a população de rua e o extermínio da juventude pobre e negra. “Se a gente pegar as estatísticas, os jovens são as maiores vítimas da violência. Vira e mexe a gente vê casos, sobretudo na periferia, de assassinato de jovens, principalmente negros”, diz.
Segundo o Mapa da Violência de 2015, do pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, os negros e jovens entre 15 a 29 anos são as maiores vítimas de homicídios por arma de fogo no Brasil. Só em 2012, como mostrou a pesquisa, morreram 2,5 vezes mais negros que brancos. Enquanto diminuiu em 23% o assassinato de brancos, aumentou em 14% de negros.
Para a candidata à presidência em 2014 e fundadora do PSOL (Partido Socialista e Liberdade), Luciana Genro, o problema da desigualdade é que ela precisa ser combatida com medidas estruturais. “O que a gente viu ao longo dos últimos anos é que houve certa distribuição de renda entre os assalariados, no sentido de que houve relativo aumento do salário mínimo, houve programas sociais, que tiraram as pessoas de uma linha de miséria absoluta, mas não houve uma mexida nos fundamentos da economia e dos problemas estruturais que fazem com que essa desigualdade permaneça”.
A Herança
4º lugar em
disparidade
de renda
Falamos de um país com uma herança histórica de desigualdade, de um passado escravistas e segregado, que traz hoje as suas consequências, como diz o ex-senador e Secretário de Direitos Humanos do município de São Paulo, Eduardo Suplicy. Para ele, o problema começou na distribuição desigual de terra quando os portugueses chegaram ao Brasil, tomando as terras que eram dos índios por direito. “Na medida em que chegaram os portugueses, foram definindo a propriedade da terra, até dividir o Brasil em capitanias hereditárias, sendo que para cada governador de capitania se poderia passar aos seus descendentes a posse”, explica.
Eduardo Suplicy / Foto: Henrique Ferreira
Para a chefe de gabinete do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Aline Diniz, “crescer não é sinônimo de menos gente na pobreza”. Ela lembra que o Brasil cresceu muito na década de 70, mas diz que foi quando as taxas de desigualdade mais aumentaram. “Temos que promover um crescimento inclusivo, é um desafio muito maior [que o crescimento econômico]”. diz.
Atualmente, o Brasil é o 4° da América Latina em disparidade de renda, segundo um relatório da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico), divulgado em maio de 2015, levando em consideração o coeficiente Gini, que mede a desigualdade social. Além disso, segundo os últimos dados do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), divulgados em julho de 2014, no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Brasil está em 79° entre os 187 países reconhecidos pela ONU, uma posição nada boa.
“Por mais de três séculos, houve escravidão, em que milhões de pessoas foram arrancadas de sua terra natal para virem ao Brasil colaborarem com a acumulação de capital de tantas famílias, sem que lhes fosse proporcionada uma remuneração”, o que ocasionou em um acumulo de riqueza desigual, segundo Suplicy. Ele lembra que o Brasil foi um dos países que mais cresceu em concentração de renda entre 1870 a 1970, mas não conseguiu resolver o problema de “se distribuir com maior justiça e equidade a riqueza produzida”.
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